sábado, 26 de julho de 2014

Metalinguagem

Eu costumava atribuir-lhe o título de deusa em meus poemas.
Teus aspectos são, de fato, divinos.
Mas depois dei-me conta do sacrilégio da minha metáfora.
O sagrado tem dessas de ser intocável para que a sua pureza não seja maculada;
tem dessa contemplação à distância, pois sua aura não deve ser transposta;
tem dessa relação quase impessoal, pois são seres superiores, de todo modo.


Revisei meus poemas.
Passo a tratar-te como "semideusa".
És assim mesmo, o híbrido.
Assim posso provar da intimidade de beijar-lhe
o rosto,
a boca
e os seios,
mas com fervorosa devoção.
Quero atravessar
e apalpar a sua alma sem profaná-la.
Sentir-me indigno de estar em sua companhia, mergulhado em seus cabelos de luz,
como se fosse a resposta piedosa de uma prece.
És semideusa porque não te prendes a nada:
volta quando quer,
parte quando quer.
Tens dessas coisas semideusas, atendes a teu lado mortal e divino.
Como sou apenas humano, eu aguardo, carcomido até a tua próxima bênção.

Nenhum comentário:

Postar um comentário