quarta-feira, 14 de agosto de 2013

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          Sempre foi uma exímia escritora. Balbuciava as palavras e as unia como tecelã. Essa, então, era a sua arte: tecer. Perdida dentro de si ela se tecia, e a si, como adornos, a árvore, a mãe, o azul, a finura, a dissonância, os sabonetes, a cadela, a canção. Era, também, assassina. O branco do papel, de imobilidade inocente, preso ao simplismo, era vítima dessa sua vibração negra e morna. A caneta que ganhara, remetida aos anos primordiais dessa invenção de que primava, era instrumento alheio à sua vontade. (Digo, ao léu.) A ponta da caneta mais do escrevia, riscava. E com o risco, o sangue. E do sangue do papel, e da alma de escritora, as palavras iam aos poucos sobrepujando a brancura, justamente dessa arte escritora de tecer o que parece morto. É possível que tenha escrito mais páginas do que as de sua própria vida? Certamente. Sangue que sai do corpo é sempre um teco de morte, mas a sua nascente é vida. Eis, então, a sua segurança, e já não mais temia: tudo que é morto tem vida. E depois sorria com satisfação, inclinando-se para matar mais uma folha com suas palavras.

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